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LUIZ FERNANDO FERNÁNDEZ COSTA
( Brasil – Distrito Federal )
Mora em Brasília e, de alguma forma, aspira a ter algum contato com a literatura.
LETRAS DE BABEL 3. Antología Multilíngüe Montevideo: aBrace editora, 2007.
200 p. ISBN 978-9974-8014-6-2
Ex. bibl. Antonio Miranda
Procura
Ouça-me, Homem! Seja qual for o teu nome,
atenção ao desafio:
demore mil verões, mil estilos,
te proponho a única aventura,
a sublime loucura,
o supremo acaso da coincidência,
a sutil e poderosa essência,
a viagem fim de teu ser;
aconteça o que acontecer,
trava a grande batalha interior.
Sai agora, e vai encontrar o amor.
Começa já!
Mas conhece-te primeiro antes de procurar.
repara cada ato teu, cada medo,
ouve bem os segredos de teu eu.
observa, palavra por palavra, os pedaços do dia.
vê como disfarças, mentes e fantasias,
todo instante, sempre, sobre o amor.
Tu lhe tens pavor,
tu o negas se te assalta,
entanto morres se te falta.
Em volta, tudo fala.
Cada matiz é pequeno recado,
do passado,
do porvir
O redor é manifesto.
Gritam-te os gestos,
a comida,
os objetos,
as paixões escondidas,
os vícios,
gritam mais alto ainda
a cruz de teu suplício.
Eles dizem o amor.
Mas tu não lhes das guarda.
Tu iludes com o sucesso,
fugás apogeu
efêmero progresso
do que é teu.
Caminha, homem, caminha!
Entra em teu deserto.
Foge do oásis das imagens,
anda cego,
até o sol do teu ego
escurecer.
Morre de sede, de poder.
Ressuscita os sonhos,
lança luz aos demônios.
Tua alma pesada,
cheia, do nada,
soçobrará.
Virá então o maná em teu favor.
É quase no fim do começo
do encontro com o amor.
Anda, Homem, com o cuidado do olhar.
Não toques em nada,
apenas permanece,
não transforma!
Vive! E retorna
ao pó que é teu lugar.
Esvazia-te, Homem!
Joga fora os embrulhos,
desmama do peito o orgulho,
jejua do pensar.
Leve, teu ser
poderá amar.
Ou, então, come tudo!
Engole o mundo,
engravida!
Depois de pari-lo,
ama-o como a um filho,
e cria-o como único.
Ama, Homem!
Fica nu de ti
e veste o amor.
Sem pudor,
reclama ao teu peito
esse sujeito.
Embora suspeito
de causar dor,
somente ele
é capaz de te livrar
da ordenada casa da razão,
a morada asséptica de emoção,
habitada por anseios vazios,
monótonos arranjos de frio
e solidão.
Ama, Homem, tua luta,
tua história, tua dita!
Por mais proscrita,
ama, Homem, a luta.
Não desiste, insiste!
Mistura-te nela.
Luta, Homem, luta!
Na disputa,
verás nos inimigos
quem tu também és.
Teus demônios terão tamanho e sobrenome.
A fome
falará de tua boca,
e qual comida, te servirá.
E se te perguntarem: qual é a tua luta?
Responde: é um forte martelar!
És o martelar,
e a labuta
e o caminho certo onde estás.
Ama, Homem, sem peias!
Sai às ruas,
rompe cadeias,
revoluciona!
Sobe ao trono,
vai ao chão,
revira a vida.
Faz desmedida a aventura,
teu principal brinquedo,
que te deixa sempre inteiro.
Mas na volta,
a caminho de casa,
na soleira da porta,
tu te encontrarás contigo.
Aí terás qual amigo?
Além do teu corpo,
um cansaço de morto
e, em fiapos, o passado.
A teu lado,
somente o fiel cobertor,
uma vontade imensa
de amor.
Ama, Homem, a canção inteira!
Se é a vida tua única companheira,
repete teu refrão com fervor.
Canta, Homem, bem alto,.
essa parte que é tua
no imenso cancioneiro do amor.
Chora, homem, chora!
põe para fora
o que há de homem em ti.
Sê, de novo, um homem novo.
Lava o espírito
com águas da alma.
Decerto,
é homem o que chora,
senão é concreto.
Tolo, Homem!
O amor?
Jamais saberás!
Importa, sim, procurar.
Em algum lugar?
Talvez em outro ser?
Quem sabe na vontade de poder?
Em um ideal, ideia, religião?
Profissão?
Desiste! Não adianta saber.
Tu o tens que inventar.
Afinal, o que é o amor?
Começa assim
a te perguntar.
O amor existe?
Será um chiste?
Capricho da razão?
Delírio da solidão?
Porto, guarida?
Ilha, laço, poço,
Armadilha?!
Título, troféu,
pódio, galardão!?
Quem sabe,
carne, família,
filho, filha,
paixão!?
Amor é busca...
Irrefletida,
do amor.
É o silêncio da multiplicação.
é processo,
está no gesto,
não na mão.
E Deus,
ato da criação.
Salva-te, Homem, e ama!
Desiste do mundo
E ama tudo!
E ama mais!
Mais do que o mais,
ama ainda mais.
E ama tanto, tanto tudo,
que jamais ames demais
por mais que ames tudo.
Ama,
até que o mais fundo e distante abismo
do mega absurdo tamanho impossível
do universo
fique repleto de teu amor,
e faça, aquele vazio espaço
explodir mais farto
de amor.
*
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Página publicada em março de 2025.
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